Alagoas

Os primeiros e poucos registros de compositores alagoanos datam de meados do século XIX, com Misael Domingues e Benedito da Silva. O primeiro, engenheiro e pianista, compositor de quase 90 obras de relevância para o estado; e o segundo, marcado na história por ter composto o hino de Alagoas. Influenciada pelos sons africanos, especialmente com uso de instrumentos percussivos, a música alagoana, assim como a de todo o país, criou seus primeiros ritmos originais utilizando-se de instrumentos criados com elementos da natureza. De Heckel Tavares a Hermeto Pascoal, muitos são os nomes alagoanos que se destacaram e se destacam na música brasileira. 

Falar da música produzida em Alagoas é reconhecer um cenário cultural rico e uma cena musical diversa. É vislumbrar as trajetórias de artistas populares que enxergaram na arte um lugar para si, criando a partir de seus universos modos de expressão únicos e extraordinários. É perceber uma cena contemporânea que reconhece sua ancestralidade e se inspira no repertório estético das culturas populares, atualizando seus timbres e ritmos. Uma tradição que também não aparece como um “peso”, que incentiva uma busca por um horizonte vanguardista, da música cosmopolita e universalista. Tudo isso sem deixar de apresentar uma reflexão sobre o que somos, sobre a nossa identidade. 

Muito mais que apenas sinalizar e legitimar artistas que já tem evidência ou reconhecimento dentro ou fora de Alagoas, buscamos apontar nomes com menos projeção ou que surgiram há pouco no cenário local – principalmente mulheres, pretos, indígenas, representantes da comunidade LGBTQIA+, e os que vivem fora da capital e da região metropolitana – tentando fazer dessas listas muito mais do que predileções pessoais, ou confirmações de privilégios, mas, sim, um lugar de boas descobertas musicais.

Em Alagoas, é possível dizer que estamos vivendo um momento de ebulição criativa, ainda muito marcado pelo impulso que a Lei Aldir Blanc, edital emergencial de fomento à cultura, deu para artistas locais viabilizarem produções durante o período pandêmico. Muitos artistas listados aqui foram contemplados e financiados com esses recursos. O que chama a atenção não apenas para um cenário cultural com bastante potencial, mas também para a carência de políticas públicas efetivas sintonizadas com os benefícios que uma distribuição de recursos que leve em consideração aspectos de raça, classe, gênero, sexualidade e também geopolíticos traz para o estado. 

Lili Buarque 
Nando Magalhães 

Lili Buarque

Alagoana, musicista, especialista em gestão cultural, idealizadora, curadora e produtora geral do Carambola. É idealizadora e produtora executiva da websérie As Mina Tudo, que reúne artistas mulheres de diversos estados em um encontro com bate-papo e música. É atualmente embaixadora do prêmio WME - Womens Music Event e já foi curadora de projetos do Festival SeRasgum (PA) e da plataforma Tidal, além de palestrante em conferências de música como Movimento Cidade (ES), CoMa (DF) e SIM São Paulo (SP). 

Nando Magalhães

Arapiraquense, 34 anos, graduado em Psicologia (UFAL),  mestrado em Sociologia (PPGS/UFAL) e doutorando em Sociologia (PPGS/UFPE). Pesquisador de políticas culturais, músico, compositor e produtor cultural. É membro fundador da Associação Cultural Popfuzz e do selo editorial Trajes Lunares. Fez parte do Conselho Nacional de Política Cultural e do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Maceió. Idealizador e produtor de uma série de projetos culturais, entre festivais de música, mostras audiovisuais e exposições artísticas.